19 de jun. de 2017

Canhoto

Acordei mais cedo que o de costume, o sol já dava sinais de que faria parte da festa e nesse cenário cativante a esperança de um excelente dia arrebatou meu coração.
O primeiro trem veio rápido e vazio, o que me fez acreditar ainda mais que o melhor estava por vir. Mas não demorou muito para o sonho escorrer por entre os dedos. De alguma forma que não sei explicar fui parar dentro do expresso leste, sentia dores horríveis, foi quando percebi que minha costela estava quase saindo pelo ouvido, algo que só não aconteceu porque eu estava com o fone bem encaixado.
A composição deu aquela ajeitada e em Itaquera a coisa piorou. Sem perceber minha perna direita desembarcou quebrando um laço comigo que durava mais de trinta anos. Mas o pior é que só me dei conta ao desembarcar no Brás.
Pulei rapidamente para a central de achados e perdidos e fui atendido por um agente glutão que não deu a mínima pro meu caso, só se importava com seu croissant de quatro queijos cuja degustação eu estava interrompendo.
Depois de alguns instantes, com o canto da boca sujo de catupiry, ele quis me empurrar uma perna mecânica que eu rejeitei de pronto,
afinal a minha era original de fábrica.
Como já era de se esperar o pouco caso e pra eu não ficar totalmente no prejuízo, peguei uma perna esquerda que estava jogada num canto da sala, e agora com duas pernas esquerdas, vou ter que aprender a ser canhoto.

Gutowm

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