19 de jun. de 2017

Trem da Alegria

A jornada diária nos trens metropolitanos  sempre reservam algumas novidades. Aprouve o destino que hoje uma senhora baixinha viajasse com o rosto anexado a minha axila esquerda. Situação desagradável pra ela e bastante constrangedora pra mim já que não consigo conter o riso toda vez que ela respira e me faz cócegas.

I Have a Dream

Há pouco mais de 10 anos eu era um jovem mais perdido que dente em boca de banguelo no tocante a formação profissional.
Até que por uma oportunidade de trabalho e incentivo de uma chefe que se tornaria amiga optei por publicidade e propaganda.
No curso descobri amigos que perduram até hoje, e quão agraciado sou por tê-los, além de  descobrir também o amor pela escrita.
É fato que sou tímido e escrever sempre foi mais fácil que falar, mas nessa época isso se tornou mais latente.
Por indicação de um profissional da área, passei a acompanhar o site do Clube de Criação de São Paulo e uma coluna em especial me chamava a atenção.
Chamava-se "Criado Mudo".
Nessa coluna os melhores redatores do país escreviam sobre o objeto mais silencioso do quarto. E como aquilo era incrível, me encantava!
Nesse cenário descobri minha vocação, aquele: "trabalhe com o que ama e nunca precisará trabalhar".
Queria ter meu texto naquela coluna.
Queria ser redator!
Mas nem tudo são flores meu jovem padawan, a remuneração dos estágios não eram suficientes sequer pra pagar a mensalidade do curso e o tempo passou, assim como essas possíveis oportunidades que me levariam sei la aonde.
Mas nunca fui de me lamentar, tampouco terceirizar a culpa. Não realizei aquele sonho, mas o adaptei, hoje escrevo de forma gratuita, por hobby pra mim e pra você. De nada!
Se você chegou até aqui deve estar se perguntando: Blz Guto mas e aí, qual a finalidade desse textão.
Nenhum motivo nobre.
Só estou pensando alto, matando meu tempo e o seu.

Gutow

Seja Feliz Sempre

Fim de tarde e o sol ainda faz jus ao seu status de astro-rei, brilhando com todo vigor em um céu de azul intenso e quase nenhuma nuvem. O termômetro da avenida marca 32° e por mais contraditório que possa parecer, esse cenário me deixa em paz de espírito.
Mas não por muito tempo!
A passos curtos e cansados prossigo rumo a meu destino e em uma loja de varejo, entre o anúncio de uma oferta e outra, a Simone começa a informar que é Natal e de supetão me cobra um feedback: "E o que você fez"?
Respondi em minha mente, feedback é diário e você não manda em mim.
Na verdade não sabia responder de pronto, mas resolvi averiguar nas retrospectivas do facebook, insta, twitter, tinder, snap e google+. Aliás esse último sequer acessei esse ano.
Relembrei alguns churrascos e chás de bebê/revelação e todos esses  que inventam a cada ano. Alguns encontros, reencontros e despedidas.
Enfim nada de muito relevante pra humanidade, mas de alguma forma acredito ter contribuído positivamente para a humanidade que vive ao meu redor, os quais, sem eles a vida não faz o menor sentido.
E é isso que desejo, que no próximo ano as metas não sejam tão ambiciosas, não se culpe por não mudar o mundo. Mas faça o possível pra fazer o seu mundo melhor, com mais sorrisos, mais gentileza, mais churros de nutella, mais amor...
Seja feliz sempre, não desista dos seus sonhos e ande sempre de cabeça erguida. Esses são os mais sinceros votos de mim pra você!

Gutowm

Momentos

Não é de hoje que filósofos e poetas colocam a felicidade em pauta.
Dizem que a felicidade não existe, mas sim, momentos felizes.
Não sou eu, um rélis pensador da cptm, que trarei solução a este tema.
Fato é que por duas semanas eu fui feliz.
Uma felicidade diferente de todas as outras que eu havia sentido até então.
Carregada de ternura, amor, responsabilidade e uma pitada de medo.
Mas a vida amigo, essa sim é uma caixinha de surpresa.
Em um fim de tarde, um vento soprou e levou consigo a felicidade, o ar e o chão.
E foi nesse exato instante de queda livre que um novo momento feliz se iniciou.
Diferente do primeiro, é bem verdade, mas fundamental pra me ajudar a seguir adiante.
No fim das contas, penso que o poeta tinha razão.
Estou sendo agraciado por tantas pessoas me trazendo momentos felizes no momento mais triste.

Gutowm

Profecia

Chegamos a tal ponto da história humana onde o Homem não pensa em nada além de si mesmo.
Até mesmo a fauna e a flora entram na lista de descartáveis, como se a natureza um dia não fosse cobrar tamanho desdém.
O que vemos hoje é o que foi profetizado lá atrás, por toda uma geração que ainda respirava ares de bom senso. Era anunciado que chegaria o tempo em que as flores não cresceriam mais. O alecrim, acostumado com o clima árido, murcharia.
O sapo, que vez ou outra se recusava a lavar o pé, o que lhe proporcionada odores desagradáveis, se mandou e nunca mais se viu notícias.
O lambari, peixe simpático e conhecido por ser fanático por futebol morreu.
Tudo isso por que o ribeirão que proporcionava vida a todo esse eco sistema, secou.
E hoje em tempos de sombrios sonhamos com um futuro melhor, mas a pergunta que fica: Será tarde demais?

Gutowm

Vida que segue

Manhã de quinta feira, dez pras seis, o despertador começa a cantar sua música infernal de forma tão impiedosa que nem o mais perigoso serial killer entenderia. Independente disso Júnior se levanta, cheio de expectativa de que o dia lhe reservaria surpresas. Abre a janela que da de fronte a um pequeno bosque e um vento fresco da manhã de outono toca seu rosto enquanto a luz do sol nascente dancava entre as árvores ao fundo. Se arrumou rapidamente e publicou em uma rede social qualquer: #partiutrampo. O caminho era o mesmo dos últimos sete anos, mas dessa vez parecia mais longo. Em questão de minutos replanejou sua vida, caso a resposta que aguardava fosse positiva. Ja tinha o roteiro do que falaria ao patrão, amigos e familiares, redefiniu metas, projetos pessoais e profissionais... Depois de eternos 20 minutos Júnior chega a sua mesa, disposto sobre o teclado um envelope pardo que se destacava dos demais objetos, e mais tarde ele jurava aos amigos que viu o envelope reluzir, e quem iria desconfiar, afinal esse envelope definiria seu futuro. Rasgou lateral do envelope com cuidado como se manuseasse uma obra rara e lá estava a resposta que tanto esperava. Com os olhos marejados, respirou fundo e disse ao seu colega de baia, bora trabalhar, não foi dessa vez que ganhei na mega sena.

Gutowm

Canhoto

Acordei mais cedo que o de costume, o sol já dava sinais de que faria parte da festa e nesse cenário cativante a esperança de um excelente dia arrebatou meu coração.
O primeiro trem veio rápido e vazio, o que me fez acreditar ainda mais que o melhor estava por vir. Mas não demorou muito para o sonho escorrer por entre os dedos. De alguma forma que não sei explicar fui parar dentro do expresso leste, sentia dores horríveis, foi quando percebi que minha costela estava quase saindo pelo ouvido, algo que só não aconteceu porque eu estava com o fone bem encaixado.
A composição deu aquela ajeitada e em Itaquera a coisa piorou. Sem perceber minha perna direita desembarcou quebrando um laço comigo que durava mais de trinta anos. Mas o pior é que só me dei conta ao desembarcar no Brás.
Pulei rapidamente para a central de achados e perdidos e fui atendido por um agente glutão que não deu a mínima pro meu caso, só se importava com seu croissant de quatro queijos cuja degustação eu estava interrompendo.
Depois de alguns instantes, com o canto da boca sujo de catupiry, ele quis me empurrar uma perna mecânica que eu rejeitei de pronto,
afinal a minha era original de fábrica.
Como já era de se esperar o pouco caso e pra eu não ficar totalmente no prejuízo, peguei uma perna esquerda que estava jogada num canto da sala, e agora com duas pernas esquerdas, vou ter que aprender a ser canhoto.

Gutowm

Rotina

Trabalhar longe de casa é mais necessidade que opção e um fator que requer todo um ritual. Passar roupa é uma das fases desse doloroso processo. Etapa que vou repensar sua real significancia. Hoje cheguei no trabalho descalço de um pé, camisa rasgada, cabelo desgrenhado e mancando de uma perna. Os colegas vieram preocupados averiguar o que havia ocorrido, alguns ofereciam agua, enquanto outros ja acionavam o pronto atendimento da empresa, curiosos, questionavam se eu havia sido assaltado, atropelado...enfim possibilidades tragicas infinitas. Após um gole de água e o folego reestabelecido disse, calma pessoal agradeço o cuidado e preocupação mas isso é só fruto de mais um dia na cptm.

Gutowm

Ouvinte

Em um mundo onde todos querem falar, eu me considero um bom ouvinte, e de certa forma ate me orgulho desse meu diferencial competitivo. Por outro lado sou um péssimo motivador, conselheiro ou qualquer outro nome que queira dar.
Esses dias por motivos de força maior peguei um uber pra voltar pra casa, trajeto rápido, coisa de 10 minutos. O motorista se mostrou bastante angustiado e já foi contando todos os problemas que estava enfrentando com a esposa e os filhos. E vou concordar que a situação era bem caótica mesmo. Passei a viagem com olhos e ouvidos atentos e já na rua de casa, com o cenário familiar todo exposto, busquei em meu interior alguma palavra que levasse algum tipo de conforto para aquela alma aflita. A única coisa que consegui reproduzir foi um sonoro EITA!

Gutowm

23 de mai. de 2017

Nostalgia

Era inicio da década de 90, enquanto o país vivia uma época não tão tranquila e favorável que ganhei um radinho de pilha. Ele era vermelho, dois alto-falantes, alça e um dial na horizontal. Meio que uma miniatura daqueles toca-fitas enormes da década anterior.
Por alguns bons anos esse radinho me acompanhou, ele foi testemunha do inicio do meu amor pelo Coringão e com ele gritei 'é campeão' pela primeira vez enquanto Osmar Santos narrava de forma inesquecível aquele gol do Tupãzinho.
Com ele vi, ou melhor, ouvi a ascensão de Racionais e seu Homem da Estrada, talvez tenha sido essa minha primeira aula de sociologia e dos questionamentos sobre a redenção de alguém que errou e todo estigma que carrega o povo da periferia... Duas décadas se passaram e os homens continuam na estrada tentando um recomeço, sem muito sucesso na maioria das vezes.
Isso está virando um textão, mas estou falando de uma época onde a pressa e a superficialidade não eram tão pungentes, aguenta mais um pouco aí vai.
Por fim, em algum momento que não me recordo, meio que sem querer ou perceber, me separei do meu grande amigo. Vieram outras prioridades, outras tecnologias e como acontece com muitas amizades, ela vai escorrendo entre os dedos, sem motivos e principalmente sem que se perceba.
E por mais que eu tente, não acredito que consiga o perdão do meu radinho com esse texto de sentimento puro, mas gramática bem duvidosa.

Gutowm